O mundo atual é predominantemente capitalista. Da mesma forma que, entre os fatores de produção, o trabalho é remunerado pelo salário, a terra pelo aluguel, o capital pelos juros, a capacidade tecnológica pelos royalties, é o lucro que remunera a capacidade empresarial.
Se tivermos que definir o que seria capacidade empresarial, diríamos que é a forma de concatenar os demais fatores de produção para gerar bens e serviços para a sociedade em geral. Assim, quanto mais capaz o sujeito for de criar sinergia entre esses fatores, melhor tenderá a seu sua recompensa (seu lucro), da mesma forma que se paga altos salários a profissionais mais bem qualificados ou alto aluguel a uma propriedade mais bem localizada.
Mas vamos trazer uma reflexão ao que atualmente ocorre em nosso País. Coincidência ou não, quando o governo atravessa uma crise por gastar mais do que pode, uma das primeiras alternativas que com frequência escolhe é o aumento dos impostos. Há economistas acreditando que entre 2015 e 2016 a carga tributária será superior a 40% do PIB.
Contudo, aqui no Brasil existe uma ilusão de que toda empresa dá lucro e que parece ser errado ser bem sucedido. No entanto, muitas delas sobrevivem à base do endividamento para financiar seu capital de giro. Mesmo assim, é aparentemente mais fácil espremer um pouco mais do já estrangulado mercado do que tentar reduzir a máquina administrativa.
Visto que toda ação gera uma reação, podemos questionar quais são as alternativas que aquele nosso empresário tem e quais as consequências de ambas as decisões (aumento da carga tributária e a reação do empresariado).
Uma delas é repassar o aumento nas vendas. Todavia, isto pressiona a inflação, reduzindo o poder de compra das famílias e, por conseguinte, o consumo. Com o aumento de preço, as empresas perdem competitividade e os níveis de atividade caem. E com menores vendas e menos receita para cobrir seu custo fixo instalado, a redução do lucro pode desestimular o empresário a permanecer no setor, tendo que demitir os funcionários e fechar a firma.
Outra é engolir seco a majoração. Mas se a empresa possuir algum plano de investimentos para melhorar sua capacidade tecnológica e operacional, terá que revê-lo, pois esta decisão reduz suas margens. Se a empresa não é lucrativa, ela não tem capacidade de realizar reinvestimentos em novos bens de capital.
Para todas as decisões escritas acima é necessária uma avaliação criteriosa do ambiente. O governo deve fazer uma análise buscando os erros de seus processos de gestão e corrigi-los. Já os empresários devem estar sempre vigilantes às mudanças e poder contar com plano de negócios alternativo.
Roger Belisario é Consultor de Gestão e Finanças, membro da Comissão de Governança Corporativa e Auditoria do CRA-RJ e Diretor Administrativo e Financeiro da ABCO – Associação Brasileira de Consultores.
2 pensamentos em “O pecado do lucro”
Discordo somente culpar o governo pelos problemas quais o país enfrenta.
O motivo pelo qual discordo é o fato do empresário brasileiro ser muito acomodado. Um exemplo disto é não fazer reservas para o futuro, e também não investi em pesquisa e desenvolvimento dos seus produtos. Quando estão lucrando compram carrões e investem o dinheiro em propriedades imobiliárias. Isto ocorre com empresas brasileiras de todos os portes, é uma questão cultural. Trabalhei em uma empresa que tinha 90 anos e uma filial. Dominou o mercado por mais de 20 anos até aparecer os concorrentes internacionais. Eles para não perderem capital venderam a empresa visto que não tinha capacidade para enfrentar a concorrência mais profissionalizada e tecnologicamente mais avançada.
O próprio brasileiro não dá valor aos produtos e serviços nacionais e prefere importar a utilizar o produto nacional.
O governo tem sua parcela de culpa devido ao sua governança péssima mais a maior culpa esta em cada um de nós brasileiros.
Conclusão o brasileiro precisa mudar este cultura e aplicar o lema da bandeira “ordem e progresso”. Faz necessário o empresário investir no desenvolvimento de seu produto e mostrar que ele tem qualidade. Ao consumidor precisa de aprender a avaliar a qualidade e valorizar. E o governo dar as condições de infraestrutura e legislação ética e justa para o mercado se desenvolver.
Verdade que a culpa não é somente do governo. Existem muitas outras variáveis de ordem econômica e social que influenciam os resultados a qual vivenciamos hoje. Você também tem razão em seus argumentos, pois de fato existem casos de pessoas que prezam o lucro acima da dignidade social em favor da manutenção de seu status quo. Mas não deixe de observar, contudo, a realidade dos pequenos e médios empresários que sobrevivem principalmente nos dias de hoje, entre a cruz e a espada. Estas empresas, segundo o SEBRAE Nacional, representam 99% dos estabelecimentos no País, respondendo por 27% do PIB e 52% na geração de empregos formais; com frequência, são elas que não dispõem de estrutura organizacional e financeira para suportar, além de outros riscos e ameaças do mercado, o aumento de impostos.